Anais - 0621A


APRESENTAÇÃO

Franc-Lane Sousa Carvalho do Nascimento¹

O III Encontro da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE), Seção Maranhão, e o I Seminário do Grupo de Estudos e Pesquisas em Política e Gestão da Educação, Formação  de Professores, Profissionalização e Trabalho Docente (GEPGEFOP), teve como objetivo geral socializar e debater estudos, pesquisas e experiências na área da política educacional, da gestão e do planejamento da educação, bem como no âmbito da formação, profissionalização e trabalho docente nos diferentes níveis e modalidades de educação. Ademais, definiu como Eixo 2: Formação de Professores e Trabalho Docente, Currículo e Práticas Pedagógicas, que foi planejado e organizado pela coordenação geral como uma das formas de valorizar os congressistas e professores/as e materializar as necessárias discussões e análises sobre as atuais políticas públicas educacionais e formativas.

Nesta perspectiva, as palestras, painéis, mesas redondas e os resumos expandidos apresentados pelos congressistas e palestrantes atingiram o objetivo supracitado do evento. Pois, entendemos a educação e a formação do professor como ações sociais e atos políticos que fazem sentidos quando ultrapassam o conhecimento da realidade e se projeta por transformá-la, transforma os sujeitos e suas percepções de mundo. Sendo necessário o coletivo dos anseios sociais e políticos de manifestações como promotoras da democracia e da solidariedade pela conquista da emancipação do sujeito. O que exige formação crítica dos professores(as) e demais envolvidos com a educação, em vista da produção de novos saberes e fazeres, para utilizá-los na superação e ou amenização das desigualdades e formas de opressão, hegemonia e ideologia a se implantar pela classe dominante e buscar a democratização de acesso e permanência na educação e formação de professores. De acordo com Morais e Nascimento (2016, p. 475) “A restituição de uma democracia cognitiva urge, nesses tempos de incertezas e profundas modificações na sociedade em todas as escalas, territórios e com diferentes proporções.”

No Brasil deste a década de 1990 efetiva-se políticas públicas educacionais e de formação de professores orientadas pelo sistema neoliberal. Evidenciando as “contrarreformas”, com aprovações de resoluções, diretrizes, portarias, entre outros documentos oficiais, sob orientação de organismos multilaterais, fundações e grupos empresariais. A gestão da educação pública privilegia ações que beneficiam o setor privado, negligenciando direitos educacionais e sociais dos filhos da classe trabalhadora, impondo a estes o perfil de sujeitos com competências treinadas para a servidão e o pronto atendimento. Para Saviani (2020, p. 02) “Resumidamente, podemos dizer que a política educacional brasileira desde o final da Ditadura (1985) até os dias de hoje se apresenta com características condensadas nas seguintes palavras: filantropia, protelação, fragmentação e improvisação.” Assim, sabe-se que filantropia diz respeito ao distanciamento do Estado e o ideal de Estado mínimo, o que se traduz a considerar que a educação é um problema da sociedade e não prioritariamente e fundamentalmente do Estado e dos governos.

Nesta perspectiva, através das palestras, mesas redondas, painéis e resumos expandidos foi possível perceber que a educação e a formação de professores têm sofrido embates políticos de forças contrárias, o que reflete em uma educação fragilizada, precarizada, contando ainda, com os sucessivos desmontes da educação básica, ensino superior e sucateamentos das escolas e universidades, através de políticas públicas contrárias ao Estado democrático de direitos dos cidadãos e cidadãs. A formação humana é secundarizada em detrimento da preparação de mão de obra competitiva para o mercado de trabalho precarizado da sociedade capitalista que a formação tem por finalidade “capacitar” o sujeito para gerar mais lucros ao capital.

Do mesmo modo, o Eixo 2 também evidenciou as políticas públicas direcionadas através de documentos oficiais como: Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Resolução CNE/CP nº 2 (BRASIL, 2017), que impõe mudanças ao currículo da Educação Básica, Resolução CNE/CP nº 4, (BRASIL, 2018) da Reforma do Ensino Médio e a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação), Resolução nº 2 (BRASIL, 2019), fundamentada pelo Parecer CNE/CP nº 22 (BRASIL, 2019) que consiste na reformulação dos cursos de licenciatura, para um currículo revestido de princípios pedagógicos baseados na pedagogia das competências e nas perspectivas tecnocráticas e mercadológicas.

Nos trabalhos dos anais do Eixo 2: Formação de Professores e Trabalho Docente, Currículo e Práticas Pedagógicas percebemos ainda o distanciamento dos fundamentos epistemológicos da educação e as intencionalidades das referidas políticas do capital e do Estado como agentes que fornecem condições para a sua consolidação, sendo necessário a luta pela democracia de direitos e às condições das produções materiais da humanidade, entretanto, está ocorrendo “acesso ao mínimo” dos bens e serviços o que distancia o exercício da cidadania. Assim, Paulo Freire (2001), questiona esse significado de “democracia”, que intensifica a dor de milhões de famintos, renegados, proibidos de ler a palavra, e mal lendo o seu mundo, são levados a crer que não possuem formação sistemática para discernir o melhor para as suas vidas.

Do mesmo modo, as políticas educacionais na perspectiva desse autor deve ser elaboradas para propiciar reflexões da realidade e o chamamento dos sujeitos para planejar e delimitar ações, das necessidades, e sobretudo das possibilidades concretas de universalização da educação como direito pleno de todos, da democracia na sociedade como condição para a existência de uma escola democrática e da justiça social como manifestação efetiva no combate a desqualificação e coisificação do professor como “objeto” do capital. Para Nóvoa (2020) as ideologias da educação como “bem privado”, contribuem para a tribalização da sociedade.

Entendemos que a formação do professor não deve ser direcionada por alcance de metas, competências e habilidades se limitando as aprendizagens da BNCC (BRASIL, 2017), e aos princípios do praticismo pedagógico. Fragmentar, limitar e reduzir são ações de uma formação já superada. Devemos reivindicar uma política educacional para orientar a formação de um professor que atenda as dimensões de uma formação humana integral em seus diferentes aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais, dentre outros, que sejam emancipadores, críticos e reflexivos, como um investimento na intencionalidade de uma sociedade mais justa.

Dessa forma, percebemos através das leituras dos trabalhos inscritos no Eixo 2 que as lutas idealizadas pelas organizações sociais e entidades, em um contexto de cortes de verbas para a educação, indicam a relevância de ações coletivas da categoria professor na conquista de direitos. Desta forma, a organização e a luta em defesa da educação pública e dos profissionais, são condições fundamentais da garantia dos direitos que já foram conquistados.

Portanto, a educação e a formação de professores são partes do movimento histórico da reprodução das desigualdades sociais, e até os próprios profissionais reproduzem-nas em seus campos de atuação, por meio do formalismo distanciado da crítica da sociedade, condições de trabalho e salários, da falta de conscientização crítica sobre ideologia, que embora não naturais, são assumidos como corretos e convenientes. Destarte, não se tem necessidade de políticas que controlam escola e a universidade, norteando os recursos financeiros e o desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão por meio de políticas públicas educacionais a serviço do capital.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Educação e política. 5. ed. São Paulo: Cortez: 2001.

MORAIS, Joelson de Sousa; NASCIMENTO, Franc-Lane Sousa Carvalho do. Da necessidade de uma democracia cognitiva no processo de formação de professores. Poiésis, Tubarão. v.10, n.18, p. 464- 476, Jun/Dez 2016. Disponível em: http://www.portalde periodicos.unisul.br /index.php/Poiesis/index. Acessado em: 28 de junho de 2021.

NÓVOA, Antonio. Educação 2021: para uma história do futuro. Educação, Sociedade & Culturas, nº41,2014,171-185. Disponível em: https://docplayer.com.br/15413291- Educacao-2021-para-uma-historia-do-futuro.html. Acessado em 24 de junho 2021.

SAVIANI, Dermeval. Políticas educacionais em tempos de golpe: retrocessos e formas de resistência. Roteiro, Joaçaba, v. 45, p. 1-18, jan./dez. 2020 | e21512 |E-ISSN 2177- 6059. Disponível em: https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/roteiro/article/ view/21512/14281. Acessado em 25 de junho de 2021.


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¹Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Líder do GRUPO DE PESQUISAS INTERDISCIPLINARES: Educação, Saúde e Sociedade (CNPq/UEMA). Participou de um Estágio do Doutorado em Educação no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa - UL. Especialista em Coordenação Pedagógica pela UEMA e Avaliação Educacional pela UFPI, Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. Professora Adjunto I do Departamento de Educação da UEMA do Centro de Estudos Superiores de Caxias - CESC. Atualmente é Diretora do Curso de Pedagogia do CESC/UEMA, Portaria n. 117/2019 ? GR/UEMA. Trabalha como Coordenadora Pedagógica e Formadora na Secretaria Municipal de Educação, Ciências e Tecnologia de Caxias - SEMECT. É também Avaliadora Externa do MEC/INEP/SINAES, para autorização de cursos de graduação, junto ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior ? BASis, Portaria n 487, de 7 de junho de 2018. É Relatora do Comitê de Ética e Pesquisa Portaria n. 116/2018 - GR/UEMA. Trabalhou como Coordenadora Pedagógica de Educação à Distância durante 12 anos junto ao UemaNet no CESC/UEMA. Pesquisas concluídas, em andamento, apresentadas e publicadas em eventos nacionais e internacionais. Experiências nas áreas de formação, desenvolvimento profissional, profissionalização docente, Pedagogia, saberes docentes, autismo e avaliação da aprendizagem. E-mail: franclanecarvalhon@gmail.com. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-6956-4670.



SUMÁRIO

PREFÁCIO
Andréia Ferreira da Silva

APRESENTAÇÃO
Franc-Lane Sousa Carvalho do Nascimento

RESUMO I - TRABALHO DOCENTE, POLÍTICAS DE INCLUSÃO E FORMAÇÃO: (IN) COMPREENSÕES QUANTO AO PAPEL DOCENTE DO PROFESSOR DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO
Luciana de Jesus Botelho Sodré dos Santos

RESUMO II - IMPACTOS DA PANDEMIA DO COVID-19 EM DISCENTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNDB: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS DESENVOLVIDAS DURANTE O ENSINO HÍBRIDO
Rayane Greicy Santos Pinho

RESUMO III - REPRESENTAÇÕES ÉTNICO-RACIAS NO ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA: UM ESTADO DA ARTE
Jucenilde Thalissa de Oliveira
Ana Patrícia Sá Martins

RESUMO IV - O PROCESSO DE FORMAÇÃO INICIAL NO RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: REVELANDO O SER PROFESSOR
Francisco Valdenilson da Silva Vieira
Marcia Dutra da Silva
Elizangela Fernandes Martins

RESUMO V - PSICODRAMA PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UM ESTUDO DE CASO NO ENSINO SUPERIOR
Lillian Raquel Braga Simões
Poliana Andressa Costa Melonio
Leysiane Gomes de Oliveira Silva
Iris Maria Ribeiro Porto

RESUMO VI - AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO INDÍGENA: O QUE DIZEM OS PROFESSORES
Vitoria Raquel Pereira de Souza
Raimunda de Moraes Mota
Jackson Ronie Sá-Silva

RESUMO VII - CONVERSANDO SOBRE SEXO: O TEMA DA “HOMOSSEXUALIDADE” EM LIVROS PARADIDÁTICOS DE SEXUALIDADE
Lucas Mendes Silva
Vitoria Raquel Pereira de Souza
Jackson Ronie Sá-Silva

RESUMO VIII - NÃO HÁ PANDEMIA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL - REFLEXÕES SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS VIRTUALIZADAS
Andressa Farias Vidal
Marcele Passos Russano

RESUMO IX - TORNAR-SE ESCRITORA: A TRAJETÓRIA FORMATIVA DE DOCENTES E ESCRITORAS
Joelma Estela Queiroz de Cerqueira Neves
Jomária Alessandra Queiroz de Cerqueira Araujo

RESUMO X - ANÁLISE DOCUMENTAL DA PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR, NO CONTEXTO DO ENSINO REMOTO, NA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE SÃO LUIS
Livia Pereira da Silva
Ione Marly Arouche Lima
Sannya Fernanda Nunes Rodrigues

RESUMO XI - A AFETIVIDADE COMO MEDIAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL.
Poliana Andressa Costa Melonio
Lillian Raquel Braga Simões
Leysiane Gomes de Oliveira Silva
Iris Maria Ribeiro Porto

RESUMO XII - AS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO INICIAL DOS LICENCIANDOS EM
PEDAGOGIA

Poliana Andressa Costa Melonio
Lillian Raquel Braga Simões
Leysiane Gomes de Oliveira Silva
Iris Maria Ribeiro Porto

RESUMO XIII – A “META 15” - FORMAÇÃO CONTINUDA DE PROFESSORES NO PLANO MUNICIPAL DE VARGEM GRANDE: O QUE REVELA O RELATÓRIO DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO?
Vitoria Raquel Pereira de Souza
Lindalva do Remédio Oliveira Cerqueira
Thayná Raquel Santos Pinto
Porfíria Maria Oliveira Silva
Severino Vilar de Albuquerque

RESUMO XIV - A SOCIALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO A PARTIR DOS FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS CRÍTICOS DE EDUCAÇÃO
Franciane da Silva Lima
Franc-Lane Sousa Carvalho do Nascimento

RESUMO XV - ENTRE SOCIOLOGIAS E ENSINO MÉDIO: EXPERIÊNCIAS DOCENTES DE (RE)CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS SOCIOLÓGICOS
Gleyce Kelly dos Santos Leão