Livros


APRESENTAÇÃO

A Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) apresenta a seguir livro composto com os textos que foram construídos a partir das discussões realizadas nas conferências, mesas de debates, painéis e apresentação de pesquisas do XII Seminário Regional Centro-Oeste, promovido pela sua Vice-presidência nacional e que representa a região Centro-Oeste, e foi sediado pela  Diretoria da ANPAE- DF que, em 2022, tendo como tema central “Políticas educacionais: resistência e retomada da democracia e do Estado.

A ANPAE, entidade de natureza acadêmica e social que atua no campo da política educacional e gestão da educação desde 1961, promove a associação de pesquisadores em torno da formação de professores e gestores educacionais, fomentando a reflexão crítica sobre nossa história política educacional, assim como sobre o nosso presente e vontade de construir novos projetos de sociedade e de educação.

No sentido de incentivar a pesquisa e socializar estudos, experiências inovadoras, propostas políticas no campo da política e gestão da educação, que envolvem as dinâmicas de planejamento e avaliação, tanto em nível internacional e nacional, quanto regional e local, a ANPAE construiu sua rede de associados e instituições em todo o Brasil e por meio de seus Cursos, Seminários e demais eventos acadêmico-científicos, procura incentivar e contribuir com a reflexão crítica sobre os múltiplos e complexos temas do seu campo de estudos e atuação.

O XII Seminário Regional ANPAE-Centro-Oeste foi realizado de forma virtual, no período de 13 e 14 de setembro de 2022, tendo como tema as “Políticas educacionais: resistência e retomada da democracia e do Estado”; e teve como objetivo central contribuir com reflexões críticas sobre os múltiplos desafios que se fazem presente na proposição e materialização das políticas educacionais, após um longo período de desfinanciamento, ataques e precarização da área. Neste sentido, reuniu em torno do debate acadêmico e científico docentes e dirigentes de educação superior; docentes, dirigentes e técnicos dos sistemas educacionais; professores e diretores de educação básica e de instituições congêneres; representantes de movimentos sociais de raça, diversidade de gênero, etnia e território; estudantes de cursos de graduação e pós-graduação; profissionais de outras áreas do conhecimento que tenham interfaces com as políticas intersetoriais da educação.

O Seminário constituiu-se em um espaço de debates e trocas de experiências no campo da Gestão e das Políticas Educacionais na Educação Básica e Educação Superior que precisam ser refletidas, socializadas e confrontadas com as pesquisas que vem sendo produzidas, especialmente no âmbito dos Programas de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação.

O que esteve em pauta, por meio do tema do evento, foi a retomada por debates críticos pela reconstrução ao direito à Educação. As conquistas obtidas durante duros embates nas últimas quatro décadas e consagrados em diferentes legislações como a Constituição de 1988, a LDB de 1996 e as regulamentações posteriores por meio de pareceres e diretrizes, estão sendo confrontados por um conjunto de decisões políticas, econômicas e legais neoliberais e neoconservadoras com vistas a precarizar o estado para ataque do sistema financeiro ao fundo público e riquezas nacionais. Neste cenário, depois de vilipendiados os princípios democráticos e de liberdade de expressão e intensa resistência dos movimentos sociais, científicos e da comunidade educacional – trabalhadores da educação, mães, pais, responsáveis e estudantes; está em curso a desestruturação das políticas educacionais democráticas e implantação de propostas e retrocessos que evidenciam o compromisso político do governo com setores empresariais e conservadores que atuam no campo da educação. A educação brasileira sempre vive entre perspectivas distintas e contraditórias: uma republicana e outra privatista e mercadológica. No contraponto dessa agenda encontra-se a defesa de projetos e propostas educacionais que atentem para os pressupostos políticos e pedagógicos de uma educação laica, popular, emancipadora, humana, cidadã, decolonial que reconhece e valoriza nossa diversidade. Neste sentido, os temas debatidos no XII Seminário CO inserem-se no campo da educação enquanto direito social, sua universalização e a materialização.

Com base nesta perspectiva, os objetivos do Seminário foram:

 

·         apreender as categorias resistência, democracia e estado como elementos constitutivos no enfrentamento de discursos e práticas neoliberais, neoconservadoras e antidemocráticos;

·         analisar a tensão entre público e privado tendo em vista a afirmação de pressupostos de uma educação republicana, popular, gratuita e democrática que se confronta com a mercantilização e privatização da educação crescentes no contexto atual;

·         socializar pesquisas e reflexões que vem sendo desenvolvidas por educadores em distintos espaços sobre as tendências nas políticas educacionais nos distintos espaços locais, nacional e global;

·         fomentar a troca de experiências entre pesquisadores, professores da educação básica, gestores escolares, acadêmicos, professores da educação superior e demais profissionais da educação;

·         fortalecer o intercâmbio entre os Programas e grupos de pesquisa de Pós-Graduação em Educação no Centro-Oeste;

·         ampliar e fortalecer o diálogo dos programas de Pós-Graduação em Educação com os sistemas/redes de ensino e as escolas de educação básica.

Entendemos que os objetivos foram mais do que cumpridos e convidamos a lerem os artigos reunidos aqui. A atualidade, rigor e criticidade dos artigos, assim como a excelência acadêmica de seus/suas escritores/as contribuem à luta, resistência e esperançar em tempos, ainda de luta, mas menos sombrios.

No capítulo 1 - Nova direita, capitalismo digital e política social, Camila Potyara Pereira apresenta a Nova Direita como processo social complexo e suas estratégias de dominação, exploração e disseminação no capitalismo na versão neoliberal aliada a um neoconservadorismo necessário ao estado mínimo. O capítulo 2 - Bicentenário da Proclamação da República no Brasil: o que as crianças da/na cidade têm a Comemorar?  Romilson Martins Siqueira denuncia as violações em curso e discute a necessidade de resistência para manter o direito à educação. O capítulo 3 - Educação superior e desfinanciamento no Brasil (2014-2023) de Nelson Amaral, apresenta o desmonte anunciado da Educação Superior por meio da retirada de financiamento e de ataques a esse nível de educação.

O capítulo 4 A formação docente na modalidade a distância no Brasil: o direito à educação em risco de Catarina de Almeida Santos, analisa a expansão da educação superior a distância, sua centralidade na área de formação docente e suas consequências para a qualidade da educação básica, além de problematizar a queda no ingresso e matrícula nos cursos de licenciaturas, sua oferta pelo setor privado e na modalidade EaD. Segue o capítulo 5 - Ensino híbrido: reflexões sobre qualidade em tempos de pandemia de Nathália Alves de Oliveira e Giselle Cristina Martins Real, que analisam as contradições que a oferta apresentou em função da ausência de políticas e apoios ao seu funcionamento. O Capítulo 6 - Ensino médio integrado: resistindo à reforma empresarial da educação de Rose Marcia da Silva, Gaudêncio Frigotto e Nádia Cuiabano Kunze traz discussão pertinente deixando claro as finalidades privatistas, precarizantes e as desigualdades educacionais que o “novo” ensino médio apresenta. Segue o capítulo 7 - O lócus de formação de professores: um olhar a partir do censo da educação superior 2020 de Maria Dilnéia e Solange Jarcem que analisam de forma detalhada e crítica a realidade da formação para a docência.

Especialmente contributivos ao fazer da escola pública de educação básica, o capítulo 8 - Educação básica resistência no espaço escolar a partir de saberes decoloniais de Beleni Grando discute a necessidade de escapar às contradições estruturantes da sociabilidade brasileira a partir de novos saberes e insurgências de resistência no espaço escolar. O capítulo 9 - Gestão democrática na formação de professores: a gestão escolar como atividade pedagógica de Adriana Almeida Sales de Melo aponta a necessidade fundante da gestão democrática nas escolas. Segue o capítulo 10 - Caminhos da educação escolar indígena no brasil: desafios e resistências de Eunice Dias de Paula, que nos mostra, mais uma vez, como saberes e fazeres comunitários dos nossos povos originários devem ser inspiração e retorno para o cotidiano escolar. O capítulo 11 Trabalho, classe social e educação: campos em disputas de José Paulo Pietrafesa, fortalece a análise ancorada no pensamento crítico contemporâneo que reconhece as interseccionalidades e fomenta resistências.

Contribuindo com o debate sobre os novos e velhos mecanismos de captação dos recursos do fundo público e do trabalho pedagógico autônomo das escolas, o Capítulo 12 Privatização da educação em Mato Grosso e o papel do filantropo-capitalismo na parceria pela alfabetização em regime de colaboração (PARC) de Marilda de Oliveira Costa, Ester Assalin e Samára Assunção Valles analisa a política de alfabetização do Estado de MT. Na mesma linha de visibilizar e resistir, o Capítulo 13 - Gestão democrática em contexto ultraliberal: as reformas em curso de Paulo Fioravante Giareta, Sheila Fabiana de Quadros e Luís Carlos de Oliveira retomam a discussão sobre gestão democrática como elemento de resistência do nosso campo. O Capítulo 14 - Políticas educacionais e seu papel estratégico para a superação da sociedade capitalista de Nádia Bigarella e Juliana Campos Francelino aporta as potentes possibilidades de resistência ao desmonte do estado, precarização de direitos e privatização de riquezas que as escolas de educação básica constroem.

Finalizando essa belíssima coletânea de artigos, retornamos ao chão da escola reconhecendo-a como o último espaço comunitário da diversidade e “máquina de fazer democracia” e esperanças, o Capítulo 15 Desafios da escola pública frente à militarização e criminalização da pobreza de Natália Duarte apresenta a categoria Nova Direita como elemento chave a ser considerado no contexto político brasileiro e o programa de militarização das escolas como expressão desse ideário. O Capítulo 16 Educação superior e políticas educacionais: resistência e enfrentamentos de Carina Elisabeth Maciel, Tatiane da Silva Lima e Luciana Lopes Ferreira, em que se discute e assinala a imprescindível atuação que a universidade e todo o campo da educação superior têm construído como anteparo de resistência e superação dos retrocessos que vivenciamos nos últimos anos. Fechando o livro com reflexões urgentes e importantíssimas, o capítulo 17 Crianças e adolescentes trans e LGBTI+ existem. A escola sabe? De Leila D’Arc Souza confronta a escola frente ao urgente e necessário reconhecimento, respeito e acolhimento da diversidade de gênero desde à educação infantil.

Boa leitura!


SUMÁRIO

  • APRESENTAÇÃO

  • Capítulo 1
    NOVA DIREITA, CAPITALISMO DIGITAL E POLÍTICA SOCIAL
    Camila Potyara Pereira

  • Capítulo 2
    BICENTENÁRIO DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA NO BRASIL: O QUE AS CRIANÇAS DA/NA CIDADE TÊM A COMEMORAR?
    Romilson Martins Siqueira

  • Capítulo 3
    EDUCAÇÃO SUPERIOR E DESFINANCIAMENTO NO BRASIL (2014-2023)
    Nelson Cardoso Amaral

  • Capítulo 4
    A FORMAÇÃO DOCENTE NA MODALIDADE A DISTÂNCIA NO BRASIL: O DIREITO À EDUCAÇÃO EM RISCO
    Catarina de Almeida Santos

  • Capítulo 5
    ENSINO HÍBRIDO: REFLEXÕES SOBRE QUALIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA
    Nathália Alves de Oliveira
    Giselle Cristina Martins Real

  • Capítulo 6
    ENSINO MÉDIO INTEGRADO: RESISTINDO À REFORMA EMPRESARIAL DA EDUCAÇÃO
    Rose Marcia da Silva
    Gaudêncio Frigotto
    Nádia Cuiabano Kunze

  • Capítulo 7
    O LÓCUS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UM OLHAR A PARTIR DO CENSO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR 2020
    Maria Dilnéia Espíndola Fernandes
    Solange Jarcem Fernandes

  • Capítulo 8
    EDUCAÇÃO BÁSICA RESISTÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR A PARTIR DE SABERES DECOLONIAIS
    Beleni Saléte Grando

  • Capítulo 9
    GESTÃO DEMOCRÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A GESTÃO ESCOLAR COMO ATIVIDADE PEDAGÓGICA
    Adriana Almeida Sales de Melo

  • Capítulo 10
    CAMINHOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA NO BRASIL: DESAFIOS E RESISTÊNCIAS
    Eunice Dias de Paula

  • Capítulo 11
    strong>TRABALHO, CLASSE SOCIAL E EDUCAÇÃO: CAMPOS EM DISPUTAS
    José Paulo Pietrafesa

  • Capítulo 12
    PRIVATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO EM MATO GROSSO E O PAPEL DO FILANTROPO-CAPITALISMO NA PARCERIA PELA ALFABETIZAÇÃO EM REGIME DE COLABORAÇÃO (PARC) - MT
    Marilda de Oliveira Costa
    Ester Assalin
    Samára Assunção Valles Jorge

  • Capítulo 13
    GESTÃO DEMOCRÁTICA EM CONTEXTO ULTRALIBERAL: AS REFORMAS EM CURSO
    Paulo Fioravante Giareta
    Sheila Fabiana de Quadros
    Luís Carlos de Oliveira

  • Capítulo 14
    POLÍTICAS EDUCACIONAIS E SEU PAPEL ESTRATÉGICO PARA A SUPERAÇÃO DA SOCIEDADE CAPITALISTA
    Nadia Bigarella
    Juliana Campos Francelino

  • Capítulo 15
    DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA FRENTE À MILITARIZAÇÃO E CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA
    Natália de Souza Duarte

  • Capítulo 16
    EDUCAÇÃO SUPERIOR E POLÍTICAS EDUCACIONAIS: RESISTÊNCIA E ENFRENTAMENTOS
    Carina Elisabeth Maciel
    Tatiane da Silva Lima
    Luciana Lopes Ferreira Correa

  • Capítulo 17
    CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRANS E LGBTI+ EXISTEM. A ESCOLA SABE?
    Leila D’Arc Souza

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