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APRESENTAÇÃO

A eclosão da pandemia da covid-19 afetou pessoas e instituições mundo afora. ao longo dos meses seguintes, praticamente todo o mundo social necessitou, de alguma maneira, se reinventar e com o ambiente educacional, não foi diferente. Estima-se que já em abril de 2020, globalmente, um bilhão e 716 milhões de alunos estavam sem aulas presenciais (UNESCO,2020)¹, forçando sistemas e profissionais a pensarem soluções que permitissem que o aprendizado e a convivência não fossem interrompidos completamente pela necessidade de isolamento social.

Essas práticas e as consequências de uma pandemia tão prolongada que desnudou as desigualdades socioeconômicas, de gênero e de raça, foram sentidas por discentes, docentes e gestores educacionais. Isso ensejou também um olhar atento de pesquisadores que acompanharam, registraram e investigaram os fenômenos decorrentes desse momento.

Este livro é justamente uma coletânea de sete textos que são resultados de pesquisas sobre diferentes aspectos da educação, desenvolvidas durante a pandemia da covid-19 em estados do Nordeste, segunda região mais populosa do Brasil. Estão aqui representados os estados de Pernambuco, Paraíba, Bahia e Ceará.

O primeiro capítulo, intitulado “Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco no Contexto da Pandemia”, de Ana de Fátima P. de Sousa Abranches, Henrique Guimarães Coutinho, Darcilene Claudio Gomes e Gabriella Soares do Nascimento, analisa as normativas e ações desenvolvidas pela Secretaria Estadual de Educação de PE (SEE), relacionadas às vivências do ensino médio, seja nas modalidades de ensino remoto ou ensino híbrido, no contexto da crise sanitária da covid-19, bem como a percepção dos professores em relação ao cotidiano do trabalho docente no período indicado. Os achados da pesquisa revelaram que a gestão da educação durante a pandemia em Pernambuco deixou muitas lacunas, comprometeu a qualidade de vida dos profissionais docentes e impactou negativamente a qualidade do ensino ofertado e o aprendizado dos(das) jovens.

O segundo capítulo, de Márcio Kleber Morais Pessoa e Manoel Moreira de Sousa Neto, intitulado “Uso de Aplicativos de Mensagens por Docentes da Rede Estadual do Ceará durante a Pandemia: Desigualdade de Gênero e Adoecimento”, tem como foco central a organização do trabalho docente nesse período específico, buscando compreender como professoras e professores da rede estadual de ensino do Ceará utilizaram aplicativos de mensagens para tal organização. Através de uma pesquisa com esses docentes, o estudo se preocupa em verificar os impactos do ensino remoto na saúde desses sujeitos, considerando particularmente as diferenças de gênero. Os principais resultados apontam que houve um uso significativo, por parte dos docentes pesquisados, de mensagens instantâneas trocadas com alunos e mesmo com outros professores. Também foi possível perceber que tal uso se deu para além do horário normal de trabalho, acarretando processos de adoecimento, levando os docentes a precisarem de tratamento relacionado à saúde mental, com a prevalência de docentes mulheres.

O terceiro capítulo trata de “Pobreza, Inclusão Digital e Desempenho Escolar no Contexto da Pandemia”, de Maria de Assunção Lima de Paulo, Carlos Arturo Cabrera Izquierdo e Pedro Manuel de Souza Silva Neto. Os autores analisaram a relação entre pobreza, políticas públicas de inclusão digital e desempenho escolar, no contexto da pandemia do novo coronavírus. No Brasil, não houve atuação clara e coordenada por parte do governo federal em dar suporte para essa transição e isso fez com que os estudantes, por algum tempo, ficassem à deriva. Nesse caso, foram dos governos estaduais e municipais que saíram as diretrizes para dar continuidade à vida escolar em meio à pandemia. Constatamos que, nas instituições públicas, as medidas foram arrastadas e o ritmo de adaptação ao ensino virtual foi lento, tortuoso e precário, onde observa-se o descaso na assistência às escolas públicas, no que tange à dotação de equipamentos e de conectividade nas escolas pesquisadas. Foi destaque da pesquisa a carência total de qualquer política de inclusão digital voltada para os estudantes e que a relação dos jovens com a escola, durante o tempo da pandemia, foi fragilizada.

No quarto capítulo, Danyelle Nilin Gonçalves e Irapuan Peixoto Lima Filho discutem a realidade vivida por diferentes escolas no período da pandemia. Com o título de “Enfrentamento Educacional diante da Covid-19 no Ceará”, a pesquisa realizada utilizou de casos documentados em periódicos e revistas científicas, constatando a necessidade que a comunidade escolar teve em reinventar a “sala de aula”, bem como demais processos educacionais e o relacionamento com as famílias dos estudantes. O surgimento da covid-19 e o consequente isolamento social fizeram com que as instituições escolares utilizassem estratégias diversas e metodologias apropriadas para dar seguimento aos processos avaliativos e à transmissão de conteúdos. Tais estratégias já eram de conhecimento de parte da comunidade escolar, porém pouco utilizadas no cotidiano da escola, tal como planilhas e formulários online e uso de redes sociais. Os autores entendem que os efeitos da pandemia ainda serão sentidos por muito tempo, o que ensejará a realização de novos estudos a fim de registrar e avaliar tal período.

No quinto capítulo, Patrícia Maria Uchôa Simões, Juceli Bengert Lima e Verônica Soares Fernandes apresentam recorte de uma pesquisa, intitulada “Desafios da Educação Infantil na Pandemia: Estudo sobre as Percepções das Professoras que Trabalham na Rede Pública de um Município da Região Metropolitana do Recife”, que envolveu gestores, familiares e estudantes da rede municipal de ensino de Jaboatão dos Guararapes, tendo como foco a educação infantil, considerada pelas autoras como a etapa da educação básica que ficou mais fragilizada no período da pandemia, tendo em vista a especificidade do seu currículo e dos eixos estruturantes: interações e ludicidade. A pesquisa teve como sujeitos as professoras da educação infantil. Os resultados apontam para as desigualdades estruturais da sociedade, o que demanda, por parte do poder público, políticas específicas para o enfrentamento dessa realidade, no processo de retomada da presencialidade, pois essa “nova realidade” deve apontar para a superação das limitações e deficiências do passado e trazer novas potencialidades.

No sexto capítulo, Nilma Margarida de Castro Crusoé, Núbia Regina Moreira, Rossana Carla Dias Freitas e Marcos Alves Moreira discutem a prática docente no município de Vitória da Conquista (BA), no contexto da pandemia. A pesquisa intitulada “Prática de Ensino no Ensino Médio em Tempos Pandêmicos no Sudoeste da Bahia”, articulada por uma rede de pesquisadores da Fundaj e docentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), tem como pressuposto que a educação foi o setor da sociedade mais afetado com o isolamento social vivido neste período, causando um isolamento sócio-educacional, o que provocou prejuízos psicossociais em docentes e discentes.

No sétimo capítulo, intitulado “Políticas Educativas Emergenciais no Contexto da Pandemia da Covid-19 na Rede Estadual de Ensino da Paraíba”, Andréia Ferreira da Silva, Ângela Cristina Albino e Liana Bastos Bezerra apresentam resultados de uma pesquisa que reflete acerca dos desdobramentos da pandemia para a garantia do direito à educação na rede estadual de ensino da Paraíba. Utilizando de recente produção acadêmica sobre o tema da educação escolar na pandemia e a análise de documentos legais e normativos federais e estaduais paraibanos, relativos à reorganização das atividades escolares neste período, além de dados estatísticos de órgãos governamentais, a pesquisa constata que as medidas implementadas pelo governo da Paraíba permitiram a continuidade dos processos educacionais, porém não possibilitando a universalização desse atendimento, fato que agravou a exclusão de estudantes mais pobres, pois a flexibilização de exigências curriculares e do cumprimento da carga horária oficial causou perdas significativas para esses estudantes.

No momento em que esse livro é lançado, inicia-se um novo governo que terá justamente o desafio de minimizar os danos causados não somente pela pandemia em si, mas também pelo descaso apresentado nos últimos anos em relação à educação e à falta de investimentos em ciência e tecnologia, que certamente trarão consequências para os anos vindouros. O lugar que o Brasil quer ocupar num mundo globalizado dependerá, em grande parte, do sucesso dessa empreitada.

Esperamos que esses estudos, publicados nesta coletânea, estimulem pesquisadores e profissionais da educação a refletirem sobre esse momento, de forma a pensarem possíveis saídas para outros momentos de crise.

Ana de Fátima P. de Sousa Abranches
Nilma Margarida Crusoé
Danyelle Nilin Gonçalves


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¹ https://www.unesco.org/pt/covid-19/education-response. Acesso em: 02 dez. 2022.

 


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO
Ana de Fátima P. de Sousa Abranches
Nilma Margarida Crusoé
Danyelle Nilin Gonçalves

CAPÍTULO I
ENSINO MÉDIO DA REDE ESTADUAL DE ENSINO DE PERNAMBUCO NO CONTEXTO DA PANDEMIA
Ana de Fátima P. de Sousa Abranches
Henrique Guimarães Coutinho
Darcilene Claudio Gomes
Gabriella Soares do Nascimento

CAPÍTULO II
USO DE APLICATIVOS DE MENSAGEM POR DOCENTES DA REDE ESTADUAL DO CEARÁ DURANTE A PANDEMIA: DESIGUALDADE DE GÊNERO E ADOECIMENTO
Márcio Kleber Morais Pessoa
Manoel Moreira de Sousa Neto

CAPÍTULO III
POBREZA, INCLUSÃO DIGITAL E DESEMPENHO ESCOLAR NO CONTEXTO DA PANDEMIA
Maria de Assunção Lima de Paulo
Carlos Arturo Cabrera Izquierdo
Pedro Manuel de Souza Silva Neto

CAPÍTULO IV
ENFRENTAMENTO EDUCACIONAL DIANTE DA COVID-19 NO CEARÁ
Danyelle Nilin Gonçalves
Irapuan Peixoto Lima Filho

CAPÍTULO V
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA PANDEMIA: ESTUDO DAS PERCEPÇÕES DAS PROFESSORAS DA REDE PÚBLICA DE UM MUNICÍPIO DA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE
Patrícia Maria Uchôa Simões
Juceli Bengert Lima
Verônica Soares Fernandes

CAPÍTULO VI
PRÁTICA DE ENSINO NO ENSINO MÉDIO EM TEMPOS PANDÊMICOS NO SUDOESTE DA BAHIA
Nilma Margarida de Castro Crusoé
Núbia Regina Moreira,
Rossana Karla Dias Freitas
Marcos Alves Moreira

CAPÍTULO VII
POLÍTICAS EDUCATIVAS EMERGENCIAIS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19 NA REDE ESTADUAL DE ENSINO DA PARAÍBA
Liana Bastos Bezerra
Andréia Ferreira da Silva
Ângela Cristina Albino